Ainda não sou capaz de descrever a experiência que tive naquele dia, mas aconteceu. Recol - a magia de reparação - ainda está em meu pulso, para impedir que eu duvide. E então, a partir daí, eu era o paciente, o médico e a cura.
Quando dei por mim, estava em frente à minha casa. Alice estava lá, mas não chorava, apenas mantinha uma expressão séria que desapareceu quando me viu. Henri quase me enganou com sua falsa naturalidade: ele sim estava preocupado.
- Oi Alice, porque não foi ao ritual?
- Fiquei sabendo que foi proibido, então vim aqui avisá-lo, mas você já tinha saído.
- Eu avisei pra não ir - interrompeu Henri.
- Me parece preocupado, Henri. Aconteceu alguma coisa?
Ele não conteve uma expressão contrariada, franziu as sombrancelhas e respondeu no impulso:
- Deveria?
- Pelo o que eu sei, não.
- Então qual o motivo da pergunta?
- Esqueça. Eu vou subir, preciso dormir um pouco.
- Mas já, Kael? - perguntou Alice
- É. Não sei porque, estou cansando. Mas depois eu passo na sua casa pra gente conversar, ta?
- Ta bem.
Enquanto subia, me lembrei do que aconteceu em Bloar Khalong e quase disse "Podem continuar o que estavam falando!" mas me contive, então entrei no quarto e mal cai na cama, adormeci.
Dois anos. Era o tempo que eu tinha. Precisava encontrar uma maneira de planejar a execução do ritual, além de ter que treinar a tal magia de reparação, mas como se treina esse tipo de magia? E a Alice? Havia decidido que contaria a ela sobre os meus sentimentos o mais rápido que conseguisse, já que não sabia o que poderia acontecer comigo em dois anos. Se bem que eu não tinha prometido nada; eu não sou obrigado a realizar ritual algum. Quem me garante que as intenções daquele sujeito eram boas? E mesmo que fossem, o que eu tinha com isso?
Eu não estava certo sobre o que faria daquele momento em diante. Então, no final daquela tarde, aconteceu.
Ainda estava em meu quarto, mas a pouco tinha acordado. Fiquei algum tempo sentado na cama, pensando, então me levantei, fui até a janela para ver o céu e me deparei uma cena bizarra: um grupo de pessoas em frente a minha casa, todas trajadas com um tecido cinza claro, as cabeças cobertas pelo mesmo tecido, imóveis. Me perguntei se estaria sonhando ou se havia voltado para Bloar Khalong, mas não estava com o Pulso Solar. Sem saber pra onde ir ou que fazer, desci até a cozinha a procura de Henri.
- Henri! Onde você está?
Ele surgiu pela porta da sala, e como se nada estivesse acontecendo, disse:
- Estou aqui. O que foi?
- Não sentiu nada estranho?
- Hum...não.
- Cara, tem um monte de gente encapuzada em frente de casa, e eles nem se mexem.
- O que? - disse enquanto ia para a janela da frente. Então se afastou rapidamente, com o olhar perdido - Protenido.
- O que disse?
- É uma magia. Kael, temos que sair daqui agora.
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