quinta-feira, fevereiro 08, 2007

KK: Capítulo VI

Capítulo VI

Kael e Alice atravessavam a estreita rua mal iluminada, silenciosos. Ele procurava uma forma de tomar a iniciativa e conversar com ela sobre o cíumes recíproco que sentiram, ela tinha pensamentos distantes dali. Então ele tossiu e disse:

- Alice...
- Sim?
- É...e então, como foi com o Rafael?
- Ah, não foi muito bem.
- Hum...

Uma pausa constrangedora se seguiu.

- Mas porque não foi bem?
- Bem, Kael...ele é legal, mas não é dele que eu gosto.
Kael não conseguiu dizer nada de imediato, por causa da quantidade imensa de perguntas que lhe surgiram à mente, aliada a uma alegria incerta.
- S-Se não é dele que...
- E você com a Marina? - ela o interrompeu - Desculpe, o que disse?
- Não, nada...a Marina é legal, bonita, mas...
- Mas?
- Mas também não é dela que eu gosto. - e olhou fixamente para Alice. Ela, desviando o olhar para uma placa caída na calçada, disse:
- Hmmm...e o Henri com a Adriana? O que foi aquilo?
- Sei lá, o Henri é doido, nunca me disse que estava afim dela. - ele disse coçando a cabeça.
- Acho que isso não vai dar em nada. E o Rágoas, ele estava estranho hoje, sabe se aconteceu alguma coisa?
- Também fiquei desconfiado. Na festa, depois de falar com você eu fui...é...eu vi...eu vi que ele estava estranho...mas não sei porque.
- Deve ser algum problema com a família. Aqueles pais dele são muito difíceis.
- Acho que sim...
- Bom, amanhã você vai com sua família para o ritual, né?
- Sim. E você?
- Vou. E o Henri?
- O Henri acha tudo uma bobagem, vai ficar em casa.
- Ah...tá. Bem, deixa eu seguir meu caminho aqui, depois falamos. Tchau Kael!
- Espera, Alice!
- Que foi?
- Eu vou com você até sua casa.
- Não precisa, meu irmão está na casa de um amigo que fica ali em frente, fizeram uma reunião simples pelo Khadoma. Eu passo lá e vou com ele pra casa.
- Entendi...então tá. - disse ele, abaixou a cabeça inconformado e seguiu.
- Tchau! Até amanhã!
- Tchau.

Enquanto via Alice desaparecendo através das sombras das árvores, Kael pensava no que ia fazer. Seguir adiante com a idéia de arrumar uma namorada? Desistir e confessar a Alice o que sente de uma vez por todas? Mas se ela não gostasse dele do jeito que ele esperava, a amizade também ficaria abalada, ou até acabaria. Ela sempre disse a ele que odeia mentiras, e já faz muito tempo que ele esconde isso dela. Chegando em casa, Kael deitou-se na cama. Sentia uma espécie de enjoo, seu estômago doia. Quase duas horas depois, adormeceu. Mais tarde, ouviu quando Henri chegou. Levantou-se e foi em direção à cozinha, para conversar com o amigo.

- Kael, amigão, nem te conto. Aquela Adriana é demais!
- Ah é?
- É. Faz juz à fama que tem.
- Onde você estava?
- Eu, Ela, o irmão dela - Rafael - e alguns amigos fomos à praia, aquela próxima do porto de Osaforte. Ficamos conversando, a pior parte. Depois fugimos dali e ficamos só nós dois embaixo daquela ponte que vai para o farol.
- É, agora que arrumou esses amigos ricos, me deixou completamente de lado. E olha que eu pedi pra você vir comigo embora.
- Cara, não seja egoísta. Tenho certeza que você não tinha nada de importante pra falar, era só pra eu ir com você. E não adianta reclamar, você sabe muito bem o quanto é importante pra mim.
- Está certo...eu sei, Henri. Você também é muito importante pra mim. Mas e ai, o que aconteceu depois?
- E ai que depois ela ficou insistindo naquela história de namorar sério.
- Você não ia namorar com ela?
- Claro que não! Por isso não queria dizer, mas você veio falando que eu estava cheio de segredos e ainda por cima trouxe aquela garota intrometida que espalhou a história.
- Não sabia, oras. Se você tivesse me contado o que pretendia antes de irmos para a festa, teria te ajudado.
- Eu sei. Mas não foi nada planejado.

- A Marina é legal, sabe. Mas mesmo estando ali com ela, não consigo parar de pensar na Alice.
- Ah, não começa com a choradeira, Kael. Vamos dormir, que é melhor.

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