quarta-feira, fevereiro 28, 2007

KK: Capítulo X

Capítulo X

Ainda não sou capaz de descrever a experiência que tive naquele dia, mas aconteceu. Recol - a magia de reparação - ainda está em meu pulso, para impedir que eu duvide. E então, a partir daí, eu era o paciente, o médico e a cura.

Quando dei por mim, estava em frente à minha casa. Alice estava lá, mas não chorava, apenas mantinha uma expressão séria que desapareceu quando me viu. Henri quase me enganou com sua falsa naturalidade: ele sim estava preocupado.

- Oi Alice, porque não foi ao ritual?
- Fiquei sabendo que foi proibido, então vim aqui avisá-lo, mas você já tinha saído.
- Eu avisei pra não ir - interrompeu Henri.
- Me parece preocupado, Henri. Aconteceu alguma coisa?
Ele não conteve uma expressão contrariada, franziu as sombrancelhas e respondeu no impulso:
- Deveria?
- Pelo o que eu sei, não.
- Então qual o motivo da pergunta?
- Esqueça. Eu vou subir, preciso dormir um pouco.
- Mas já, Kael? - perguntou Alice
- É. Não sei porque, estou cansando. Mas depois eu passo na sua casa pra gente conversar, ta?
- Ta bem.

Enquanto subia, me lembrei do que aconteceu em Bloar Khalong e quase disse "Podem continuar o que estavam falando!" mas me contive, então entrei no quarto e mal cai na cama, adormeci.

Dois anos. Era o tempo que eu tinha. Precisava encontrar uma maneira de planejar a execução do ritual, além de ter que treinar a tal magia de reparação, mas como se treina esse tipo de magia? E a Alice? Havia decidido que contaria a ela sobre os meus sentimentos o mais rápido que conseguisse, já que não sabia o que poderia acontecer comigo em dois anos. Se bem que eu não tinha prometido nada; eu não sou obrigado a realizar ritual algum. Quem me garante que as intenções daquele sujeito eram boas? E mesmo que fossem, o que eu tinha com isso?

Eu não estava certo sobre o que faria daquele momento em diante. Então, no final daquela tarde, aconteceu.

Ainda estava em meu quarto, mas a pouco tinha acordado. Fiquei algum tempo sentado na cama, pensando, então me levantei, fui até a janela para ver o céu e me deparei uma cena bizarra: um grupo de pessoas em frente a minha casa, todas trajadas com um tecido cinza claro, as cabeças cobertas pelo mesmo tecido, imóveis. Me perguntei se estaria sonhando ou se havia voltado para Bloar Khalong, mas não estava com o Pulso Solar. Sem saber pra onde ir ou que fazer, desci até a cozinha a procura de Henri.

- Henri! Onde você está?
Ele surgiu pela porta da sala, e como se nada estivesse acontecendo, disse:
- Estou aqui. O que foi?
- Não sentiu nada estranho?
- Hum...não.
- Cara, tem um monte de gente encapuzada em frente de casa, e eles nem se mexem.
- O que? - disse enquanto ia para a janela da frente. Então se afastou rapidamente, com o olhar perdido - Protenido.
- O que disse?
- É uma magia. Kael, temos que sair daqui agora.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

KK: Capítulo IX

Capítulo IX


Kael já não conseguia mais distinguir sonho de realidade. Aquela voz repentina o teria assustado de verdade, não fosse tudo que já havia desabado em sua cabeça. O dono da voz usava uma roupa cinza escura com um capuz, seus olhos estavam vendados por um tecido brilhante, cinza claro. "Só pode ser um sonho", Kael repetia a si mesmo. Então fixou o olhar no sujeito, mas não conseguiu formular nenhuma pergunta de imediato.

- Eu não espero que você entenda tudo logo de cara, mas vou lhe explicar.
- E quem é você?
- Isso não importa neste momento. Apenas me escute: em primeiro lugar, você não está na sua casa...
- Ah, é? Estou onde então? - por um momento pensou que tudo aquilo seria uma brincadeira, de mal gosto.
- Você está em outra face de Khalong, está em Bloar Khalong.
- Tá, e o que é isso?
- Se você não ficar me interrompendo, te explico.
- Pode dizer então - disse Kael, enquanto limpava as lágrimas do rosto com as mãos.
- Você nasceu em Zodish Khalong, que é a face principal, a dimensão que tem o verdadeiro valor. Zodish é a Khalong verdadeira, ou como nós denominamos, é a Khalong de Leão. Você está em Bloar, a Khalong de Escorpião. Você se transportou para esta dimensão usando o Pulso Solar.
- Pra mim, ainda se parece com a minha casa. Está tudo igual.
- Tem certeza?
- Aham.
- Então o que está fazendo trancado neste quarto, dentro da sua própria casa?
- Bem...
- A diferença entre as dimensões não é visível. Algumas distorções você já presenciou, mas não cabe a mim explicá-las. Precisei te trazer até aqui, porque é o único lugar seguro neste momento, para conversarmos.
- Conversarmos sobre o que? A propósito, porque não tira esta venda dos olhos?
- Garoto, vamos nos concentrar no que é importante agora, antes que o outro Kael apareça. Me escute...
- Outro Kael?!
- Sim. Se existem 12 Khalongs, me parece óbvio que existam 12 versões de cada pessoa.
- Cara, é muita loucura pra um dia só.
- Acalme-se, apenas faça o que eu lhe pedir.
- Diga.
- Daqui a dois anos, você vai executar o Ritual de Karbon de qualquer maneira. Terá complicações, mas tem que executar. Eu não posso voltar à Zodish Khalong, mas te ajudarei. Me dê o seu outro pulso.

De um modo estranho, Kael confiava plenamente naquele sujeito, havia algo de familiar em suas mãos. Ele estendeu o braço e o homem se aproximou, tirou um cristal fino do bolso e disse:

- Dói um pouco, mas será rápido - disse enquanto aproximava o cristal do pulso de Kael.
- Vai cortar meu pulso com isso?!
- Não, só vou escrever. Relaxe o braço.

Kael sentiu uma dor intensa enquanto aquele homem apertava a ponta do cristal contra seu pulso e o arrastava: ele realmente escrevia algo. Assim que terminou, limpou alguns resíduos brilhantes com a mão e apertou o pulso de Kael. Quando fez isso, sua expressão mudou e ele abaixou a cabeça. Ao perceber o que tinha feito, se afastou de Kael, como se tivesse acabado de expor sua principal fraqueza.

- Você está bem?
- Sim - disse enquanto se virava de costas -, inscrevi em você a magia Recol. É uma magia de reparação, que consome parte da água do seu corpo, portanto não pode usá-la em excesso, a não ser que tenha muita água por perto. Com algum treinamento, você será capaz de usar a Recolium, uma magia que cria um escudo de auto-reparação. Dois anos é o suficiente para melhorar sua Recol até esse ponto.
- Mas como faço para usá-la?
- A parte mais difícil eu já fiz, agora você só precisa reunir energia em seu pulso e mentalizar "Recol". Ah, e evite usá-la enquanto sentir sede.
- Tudo bem.
- Não se esqueça, será daqui a dois anos. O Ritual deve ser realizado! Desta vez, você não ficará com o Pulso Solar, mas ele o levará devolta à Zodish. Foi muito bom vê-lo, Kael - disse enquanto gradativamente, diminuía sua voz, e então, num gesto rápido, desapareceu em sombras.

Uma luz intensa envolveu Kael e como num piscar de olhos, via a frente de sua casa, tranquila e acolhedora. Precisou de um tempo para recuperar a visão, que já havia se acostumado àquele quarto escuro. O vento arrancava as folhas das árvores e as nuvens anunciavam mudanças. Estava devolta à Zodish Khalong.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

KK: Capítulo VIII

Capítulo VIII


Kael estava perturbado. Não aguentava mais pensar que seus amigos haviam se afastando dele e ainda por cima, agiam pelas suas costas. Encontrava-se tão confuso que não notou o objeto metálico em seu pulso. Por um momento, enquanto vasculhava sua própria casa, tentando encontrar o motivo daquele clima tenso, pensou que algo pudesse ter acontecido à Henri. Mal terminou o raciocínio, quando abriu a porta da cozinha e exclamou, paralizado:

- A-Alice? O que houve? Por que está chorando?

Alice estava sentada numa cadeira, próxima à janela da cozinha, com o rosto inchado e os olhos vermelhos. Kael nunca a vira tão fora de controle. Henri também estava lá e ficou claramente preocupado quando viu Kael.

- Alice, me dê um minuto - levantou-se da cadeira e se aproximou de Kael -, Kael, venha comigo, preciso falar com você.
- Mas Henri, a Alice...o que aconteceu? Me larga!
- Kael, por favor. Vamos até o meu quarto.
- Alice?
Ela abaixou a cabeça e disse calmamente:
- Vá com ele, Kael.

Os dois amigos saíram da cozinha, um deles fechando a porta atrás de si. Kael ainda estava perplexo, tentando entender a lógica de tudo aquilo. Seu amigo o colocou para dentro do quarto e também encostou porta, retirando a chave e colocando-a no bolso.

- Sente-se - disse Henri, enquanto fixava o olhar em Kael, até que ele se sentou.
- Pode me explicar o que está acontecendo?
- Olha só Kael, primeiro, nada disso foi planejado. Me pegou de surpresa também.
- Mas do que você está falando?
- Kael, olhe pra mim. Você sabe que eu nunca faria nada para prejudica-lo, certo?
- Sei.
- Preciso te pedir algo muito importante agora. Sei que você não vai entender, mas precisa confiar. Você confia em mim?
- Confio.
- Então eu peço que você não pergunte nada sobre isso que acabou de ver. Eu sei que é difícil, também ficaria confuso, mas...fique aqui até eu voltar, vai dar tudo certo.
- Você é louco? Como pode pedir isso, sabendo o que eu sinto por ela? Eu só quero que você me explique o que está acontecendo! Só isso!
- Calma. Eu vou te explicar, quando for seguro pra você ouvir. Não me force a mentir pra você, porque a verdade eu sou incapaz de contar.
- Henri...eu não entendo...
- Faça o que eu pedi, por favor.
- Não dá, Henri! Eu preciso saber!
- Então me desculpe, Kael. Eu não queria ter que fazer isso, mas um dia você vai me entender.

Henri se levantou, dirigiu-se até a porta e, enquanto Kael o observava incrédulo, trancou-o no quarto. Aquele gesto foi tão rápido e inesperado que ele não conseguiu reagir. Ficou ainda mais confuso quando seu melhor amigo disse-lhe do outro lado da porta trancada:

- É para o seu bem!

Kael levou as mãos à cabeça e massageou os cabelos, tentando fazer com que aquela dor de cabeça repentina o deixasse em paz. Estava completamente perdido e não se conformava pelo o que seu amigo havia feito com ele. Foi até porta e começou a gritar:

- Rágoas, me tira daqui! Henri! Alice! Por favor!

Estava decepcionado, ansioso e confuso. Sentiu uma agonia incontrolável e começou a chorar. Pensou que seus amigos queriam se afastar dele mas não sabiam como fazer, que ele estava sobrando e não era capaz de tratar assuntos sérios com ele, por isso o deixavam de fora. Então levantou-se novamente e rouco, gritou:

- Que merda, meu! Por que estão fazendo isso comigo?! Era só dizer, que eu me afastava de vocês! Nunca quis atrapalhar a vida de ninguém! Henri, me tira daqui! Que droga!

Depois de algum tempo, Kael deitou-se na cama, com os olhos molhados e os cabelos desarrumados e finalmente o viu em seu pulso. Seguiu-se um silêncio ameaçador, interrompido por uma voz firme e confiante:

- Confesso que estou decepcionado, Kael. Imaginei que você notaria muito antes o Pulso Solar.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

KK: Capítulo VII

Capítulo VII


- Vamos testá-lo hoje? Mesmo com esse impecílio?
- Sim. Também temos nossas cartas na manga.

No dia seguinte, assim que acordei, troquei de roupa e passei pelo corredor em direção à porta. Ia até casa dos meus pais, para então seguirmos ao ritual em homenagem à Karbon. Mas antes que eu pudesse abrir a porta, ouvi uma pergunta apressada, vinda do quarto de Henri, que até então estava dormindo: "Ei, vai mesmo participar daquela palhaçada?"

- Vou. - e fui próximo à porta - Dorme ai, tá muito cedo. Depois trago alguma coisa pra gente comer.
- Beleza.

Então saí e fui caminhando até a casa dos meus pais. No inicio, eu pensei que tinha chegado muito cedo, porque ainda estava tudo trancado. Esperei uns quinze minutos e nada. Aí eu resolvi chamar, chamei três vezes, até que a minha mãe surgiu na janela, e apertando os olhos para me enxergar, disse:

- O que está fazendo aqui, filho?
- Mãe! Se esqueceu do ritual?
- O ritual?! Kael, não leu o jornal de ontem?
- Não. O que houve?
- Espera, vou abrir a porta pra você - então saiu da janela e destrancou a porta - Vem tomar um café que eu te explico.

Enquanto fazia o café, me explicou que o Rei Dante havia proibido a execução do ritual por causa do tempo. O ar estava seco demais e a previsão era de vento forte. Portanto, segundo essa lógica, fogueiras à luz do sol poderiam causar uma tragédia das grandes em Osaforte. Vai ver o rei pensava que seu povo era burro o suficiente para acreditar nisso. Só resta saber o que levaria um rei a impedir uma manifestação religiosa que o povo sempre fez questão de manter.

- Que estranho...
- E ainda colocaram guardas por toda a cidade para impedir que alguém tente. Não é algo que dê para fazer escondido, por causa da fumaça. E como isso foi avisado apenas ontem, a única saída foi cancelar. Filho, coma esse pão recheado, fiz ontem à noite, está uma delícia.
- Ah, tá. Mas o ar não está tão seco assim. É o clima normal daqui de Osaforte. Proibíram o ritual apenas nessa região?
- Sim, só por aqui. Sempre disse a seu pai que esse rei era louco. Onde já se viu, proibir o ritual de Karbon...
- Pois é, nunca fizeram isso antes.

Meu pai acordou em seguida. Fiquei algum tempo ali conversando com eles e então fui embora. As ruas da cidade estavam desertas, essa proibição do ritual mais se assemelhou a um toque de recolher e com certeza causaria má impressão. Para o povo daqui, o ritual de Karbon tem a mesma importância de um casamento, de um batizado ou de uma iniciação. Enquanto voltava, avistei dois guardas imperiais que corriam na direção de uma nuvem de fumaça. Provavelmente, alguém tentara executar o ritual. Consegui ouvir gritos e um som característico e agudo de magia defensiva. Próximo da avenida, vi mais alguns guardas apressados que faziam sinais com as mãos. Porém, antes que alguns deles desaparecessem de vista, a fumaça parou. Com certeza, outros guardas já haviam impedido a tentativa. No entanto, algo muito estranho aconteceu: um arbusto que estava atrás de mim, próximo ao portão de uma casa do bairro, escureceu, murchou e então pegou fogo. Mas era um fogo diferente, mais dourado e linear. Saí correndo dali, antes que algum guarda visse e pensasse que era eu o responsável por mais uma fogueira.

Mesmo depois de correr muito, ainda vi faíscas saindo de uma lixeira e dos fios de energia, suspensos nos postes. Felizmente não encontrei mais nenhum guarda pelo caminho. Quando finalmente chegava em casa, segurando em uma das mãos um saco com os pães recheados que a minha mãe havia mandando para o Henri, notei que o portão de casa estava aberto. Ainda não havia alcançado o portão, quando Rágoas veio correndo fechá-lo e olhou para o lado, então me viu.

- Kael?! - exclamou, surpreso.
- O que está fazendo aqui, Rágoas?
- Fica calmo, Kael. Eu vim com...espera!
- Já estou cheio disso, vocês escondem tudo de mim - disse enquanto entrava em casa, imaginando o que poderia estar acontecendo - Eu mesmo descubro.
- Kael! Espera, por favor!

Abri a porta e não havia nada na sala. Então ouvi alguns ruídos na direção da cozinha e resolvi ir até lá checar. A porta estava encostada e quando a abri, presenciei a cena mais improvável que poderia imaginar.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

KK: Capítulo VI

Capítulo VI

Kael e Alice atravessavam a estreita rua mal iluminada, silenciosos. Ele procurava uma forma de tomar a iniciativa e conversar com ela sobre o cíumes recíproco que sentiram, ela tinha pensamentos distantes dali. Então ele tossiu e disse:

- Alice...
- Sim?
- É...e então, como foi com o Rafael?
- Ah, não foi muito bem.
- Hum...

Uma pausa constrangedora se seguiu.

- Mas porque não foi bem?
- Bem, Kael...ele é legal, mas não é dele que eu gosto.
Kael não conseguiu dizer nada de imediato, por causa da quantidade imensa de perguntas que lhe surgiram à mente, aliada a uma alegria incerta.
- S-Se não é dele que...
- E você com a Marina? - ela o interrompeu - Desculpe, o que disse?
- Não, nada...a Marina é legal, bonita, mas...
- Mas?
- Mas também não é dela que eu gosto. - e olhou fixamente para Alice. Ela, desviando o olhar para uma placa caída na calçada, disse:
- Hmmm...e o Henri com a Adriana? O que foi aquilo?
- Sei lá, o Henri é doido, nunca me disse que estava afim dela. - ele disse coçando a cabeça.
- Acho que isso não vai dar em nada. E o Rágoas, ele estava estranho hoje, sabe se aconteceu alguma coisa?
- Também fiquei desconfiado. Na festa, depois de falar com você eu fui...é...eu vi...eu vi que ele estava estranho...mas não sei porque.
- Deve ser algum problema com a família. Aqueles pais dele são muito difíceis.
- Acho que sim...
- Bom, amanhã você vai com sua família para o ritual, né?
- Sim. E você?
- Vou. E o Henri?
- O Henri acha tudo uma bobagem, vai ficar em casa.
- Ah...tá. Bem, deixa eu seguir meu caminho aqui, depois falamos. Tchau Kael!
- Espera, Alice!
- Que foi?
- Eu vou com você até sua casa.
- Não precisa, meu irmão está na casa de um amigo que fica ali em frente, fizeram uma reunião simples pelo Khadoma. Eu passo lá e vou com ele pra casa.
- Entendi...então tá. - disse ele, abaixou a cabeça inconformado e seguiu.
- Tchau! Até amanhã!
- Tchau.

Enquanto via Alice desaparecendo através das sombras das árvores, Kael pensava no que ia fazer. Seguir adiante com a idéia de arrumar uma namorada? Desistir e confessar a Alice o que sente de uma vez por todas? Mas se ela não gostasse dele do jeito que ele esperava, a amizade também ficaria abalada, ou até acabaria. Ela sempre disse a ele que odeia mentiras, e já faz muito tempo que ele esconde isso dela. Chegando em casa, Kael deitou-se na cama. Sentia uma espécie de enjoo, seu estômago doia. Quase duas horas depois, adormeceu. Mais tarde, ouviu quando Henri chegou. Levantou-se e foi em direção à cozinha, para conversar com o amigo.

- Kael, amigão, nem te conto. Aquela Adriana é demais!
- Ah é?
- É. Faz juz à fama que tem.
- Onde você estava?
- Eu, Ela, o irmão dela - Rafael - e alguns amigos fomos à praia, aquela próxima do porto de Osaforte. Ficamos conversando, a pior parte. Depois fugimos dali e ficamos só nós dois embaixo daquela ponte que vai para o farol.
- É, agora que arrumou esses amigos ricos, me deixou completamente de lado. E olha que eu pedi pra você vir comigo embora.
- Cara, não seja egoísta. Tenho certeza que você não tinha nada de importante pra falar, era só pra eu ir com você. E não adianta reclamar, você sabe muito bem o quanto é importante pra mim.
- Está certo...eu sei, Henri. Você também é muito importante pra mim. Mas e ai, o que aconteceu depois?
- E ai que depois ela ficou insistindo naquela história de namorar sério.
- Você não ia namorar com ela?
- Claro que não! Por isso não queria dizer, mas você veio falando que eu estava cheio de segredos e ainda por cima trouxe aquela garota intrometida que espalhou a história.
- Não sabia, oras. Se você tivesse me contado o que pretendia antes de irmos para a festa, teria te ajudado.
- Eu sei. Mas não foi nada planejado.

- A Marina é legal, sabe. Mas mesmo estando ali com ela, não consigo parar de pensar na Alice.
- Ah, não começa com a choradeira, Kael. Vamos dormir, que é melhor.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

KK: Capítulo V

Capítulo V

Assim que voltamos à festa, fiz com que Alice me "reapresentasse" à Marina e notei novamente seu ciúmes, principalmente quando ela disse "A garota nunca vai querer nada com você...os dois não tem nada a ver. Se liga, Kael!". Mas tudo bem, conversei bastante com a Marina. Ela é muito bonita e aparentemente tem um bom papo. Enquanto estava ali com ela, Alice ficou com Rafael, aquele que tinha organizado a festa. Cheia de simpatia. Deu vontade de ir lá e falar para ela "Pára, Alice! Larga ele e fica comigo!", mas é claro que eu não disse nada, só fiquei olhando e ela também me olhava às vezes.

Henri ficou com a Adriana Klein, de longe a garota mais disputada da festa. Acho que ela é do tipo "cansei de ser amada", porque ficou com Henri mesmo ele não dando a mínima para ela. Ainda assim, os outros garotos ficaram em cima, mas não foi por muito tempo: Henri começou a encarar quem se aproximasse, até o Kenel, um valentão metido a besta. Depois, a Marina pediu para irmos até lá "com o meu amigo", mas eu sei que ela só queria se enturmar com a Adriana. Eu fui, porque não aguentava mais ver a Alice com aquele tonto do Rafael.

- Kael, finalmente! Senta ai! Quem é essa? - disse o Henri na maior descontração.
- Marina, amiga de escola da Alice. E Marina, esse é o Henri, o amigo que mora comigo. Oi Adriana.
Marina cumprimentou Henri e Adriana num tom excessivo de animação. Elogiou a festa, o vestido dela, chegou a ser deprimente.
- Obrigada! - disse Adriana, depois virou para Henri que não fez a menor questão de responder à Marina.
- Hum, e eu pensando que o nível da conversa ia melhorar... - Henri, entendiado.
- O que está querendo dizer?! - perguntou Adriana inconformada.
Ele dirigiu um olhar à ela que poderia ser traduzido como "Anta, não era com você!". Mas disse:
- Brincadeira, gata, fica fria. Kael, onde está Alice?
- Está ali com o Rafael. E o Rágoas?
- Já foi embora.
- Henri, fala pra ele o que a gente combinou. Quero ver se tem coragem! - disse Adriana, com um ar de desafio.
- É lógico que não vou dizer. Isso é entre a gente.
- Henri tá cheio dos segredos...
- Não é isso, Kael. É que...é que nós dois estamos tentando ficar sério.
- Ah...
- Não acredito! Vocês vão namorar?! - Marina, gritando como quem encontra um tesouro.
- Filha, quem te chamou aqui? - Henri, nervoso.
- Ei Henri, ta louco? Eu quem trouxe ela aqui! Você não pode falar assim com...
- Espera, Kael. Eu falei alto demais. Me desculpem! - Marina, com um ar de "estraguei tudo".
- Que isso, não tem problema nenhum. O Henri que é nervosinho mesmo. - Adriana, apreciando a repercussão do grito.
- Nervosinho o caramba! Eu não queria dizer nada e agora já tem gente gritando...

Nisso, a Alice vinha chegando com o Rafael Klein.

- Oi Henri! Adriana, Kael, Marina! O que estão fazendo?
- Até agora nada. E você? O que estava fazendo...com ele? - eu disse, já me arrependendo por ter dito.
- Hã? Estava conversando, dançando...
- E ai, pessoal! - Rafael, chegando logo em seguida.

A partir daí foi uma verdadeira guerra de ciúmes entre eu e a Alice. Eu abraçava a Marina, ela abraçava o Rafael. Eu elogiava a Marina, ela o Rafael. Enquanto isso, Henri esboçava um sorriso no rosto e as vezes ria mesmo. Adriana ria junto, como uma babaca.

- E ai Alice, será que vai dar namoro? - Henri, malicioso.
- Não sei...
- O que você acha, Kael?
- Eu?! Sei lá, Henri - disse, incomodado.
- Olha, se dependesse de mim, eu e Alice já estaríamos namorando há muito tempo - Rafael, já bebado.
Todos ficaram sem graça, mas riram, exceto por mim.

Depois, eu quis ir embora, fazendo questão de me despedir da Marina com um beijo, na frente da Alice.

- E então Henri, vamos?
- Pode ir Kael, já estou com a outra chave aqui. Mais tarde eu vou.
- Vem comigo, cara! Eu preciso falar com você!
- Não vai dar, amigão. Depois falamos.
- Hum...tá bom. Então já vou. Tchau para vocês.
- Espera, Kael! Eu também vou. - Alice, derrepente. Eu olhei para ela, incrédulo.
- Já vai Alice?! - Rafael, sem entender o que tinha feito de errado.
- Vou, estou morrendo de sono. Amanhã a gente conversa.
- Tudo bem, mas não vai me dar um beijo antes de ir?
- Alice, se quer ir, vamos logo.
- Amanhã, Rafael! - Alice, já indo embora comigo. Eu de cara amarrada.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

KK: Capítulo IV

Capítulo IV


O Dia de Khadoma era celebrado anualmente em todo o país, no início do ano. Khadoma foi um guerreiro brilhante e justo, que liderou os exércitos de Khalong contra os bárbaros de Marsong, num momento em que o próprio Rei já desistira. A história diz que ele teve êxito apenas por sua incrível perseverança e inteligência, mas a lenda contada pelo povo dá conta que seu sucesso em batalha se deu por algo muito mais poderoso que isso: Karbon, o Espectro Solar. Acredita-se que Karbon seja o último sobrevivente da Tribo do Fogo, formada por seres que habitavam o Sol, quando este ainda era habitável. Então houve a Grande Explosão, transformando-o no Sol como conhecemos e dizimando a Tribo.

Diz a lenda que Karbon é uma especie de fantasma de fogo e que, por algum motivo uniu-se a Khadoma contra os Marsongueanos. Em batalha, o espectro se fundia ao guerreiro, formando um ser fantástico que ficou conhecido como Karbon Khadoma. O fantasma também era o conselheiro de Khadoma fora das batalhas, mas apenas se manifestava durante o dia, na presença dos raios solares. Karbon também presenteou Khadoma com o Pulso Solar, uma relíquia que o permitia ver "as 12 faces do Sol".

História ou Lenda, o fato é que Khadoma libertou seu país, e até então, seu dia é lembrado. Mas aqueles que seguem a religião mais influente do país, chamada de Solianismo, acreditam na existência da Tribo do Fogo, portanto, no dia seguinte ao Khadoma, prestam homenagem à Karbon através de uma grande fogueira à luz do sol, com oferendas. Um simbologista decifra as marcas deixadas pelo fogo como prenúncios do Ano Novo.

Há algum tempo, sugiram rumores sobre essas mensagens. Diziam que Karbon estava procurando alguém, fala-se em "Os Eleitos". Desde então o espectro só se manifesta sobre isso e não mais sobre o futuro de Khalong.


Khalong Kael no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=27254948

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

KK: Capítulo III

Capítulo III


- Sim, eles estão vivos! Karbon terá o seu escolhido, falta pouco.
- Quem mais sabe disso?

Depois de presenciar aquela cena, fiquei sem ação, nem cumprimentei a Alice. Fomos embora juntos, até que ela foi com Rágoas para o outro lado e eu fui com Henri para casa. Naquela noite conversamos e ele me disse que já tinha percebido os meus olhares para a Alice e que hoje teve certeza que eu era apaixonado por ela, mas sempre desconfiou disso. Me deu alguns conselhos, os quais tentei seguir. Pediu para que eu ficasse observando até perceber que ela sente algo por mim - ou não -, e então me abrir. Mas nunca me senti capaz de declarar o que eu sinto por ela, e assim foi. Preferi deixar rolar para ver o que acontecia...

Como o meu comportamento mudou, ela passou a me tratar diferente, de um jeito mais formal. Foi terrível, sofri muito por vários meses. Acabei me afastando mais dela, mas ainda a amava. Então decidi tomar uma decisão, iria arrumar uma namorada. Assim, se ela gostasse de mim, eu notaria o ciumes e na pior das hipóteses, poderia ser legal estar com alguém e talvez conseguiria esquecê-la.

Marina, da mesma turma de Alice, sempre gostou muito de mim, então perguntei à ela sobre a amiga e como poderia fazer para falar com ela. Alice pareceu irritada com aquele assunto, o que me deixou animado e me incentivou a perguntar mais, para ver se ela ficava mesmo enciumada. Falava com ela na casa de outro amigo, Rafael Klein, que estava dando um festa por causa do Dia de Khadoma, tradição em Khalong. Pedi para Alice chamar a Marina, para que pudéssemos nos conhecer melhor, mas nesse momento, notei que Henri e Rágoas haviam desaparecido, então pedi um minuto e fui atrás dos dois.

Henri parecia fechar um acordo com um homem de roupa cinza, o rosto oculto por um capuz, Rágoas estava lá também, como se tivesse intermediado o encontro. Eles saíram pelos fundos, provavelmente enquanto eu estava conversando com a Alice. Logo que eu os vi, Rágoas me notou, então me escondi próximo à parede, mas não pude ouvir nada. Quando virei para ve-los novamente, só estavam os dois e Henri olhava para a minha direção. Como já tinham me visto, fui até eles e disse:

- Qual é, Henri, o que anda fazendo escondido de mim?
Ele desviou o olhar e ia dizer algo, mas Rágoas o interrompeu.
- Desculpe, Kael! Você estava com a Alice, não quis te interroper. Por isso chamei o Henri para me ajudar...
- Ajudar em que?
Henri olhou para Rágoas e então disse:
- Kael, é um problema com a família dele, acho que ele não quer contar. Deixe-o.
- Não é de hoje que vocês todos estão se afastando de mim. Se não me querem por perto, me digam logo! - disse enquanto voltava para a festa, decidido a ir para casa.
- Não seja idiota - disse Henri severamente.
- Espera, Kael! - completou Rágoas.
- Posso ser idiota como você sempre diz, mas sou sincero com meus amigos!
- Venha aqui, Kael!
Franzi as sobrancelhas, exitei, mas acabei voltando.
- O que é?
- O assunto que o Rágoas tinha a resolver com aquele homem não é da sua conta, nem da minha. Só que ele pediu a minha ajuda.
- Tudo bem...desculpe Rágoas, não quis me meter. Mas também não precisa ficar nervoso, Henri!
Henri me lançou um olhar arrependido, enquanto Rágoas parecia se lamentar pelo ocorrido e olhava inseguro para ele, então disse:
- Henri, não seria melhor dizer a ele...
- Não!
- Não precisa Rágoas, é assunto seu. Eu já entendi.
- Melhor voltarmos, Alice deve ter percebido que saímos.

Enquanto voltávamos, encontramos Alice ali perto da parede onde tinha me escondido. Tenho certeza que ela me seguiu e ouviu tudo, mas nunca comentou nada, ao menos comigo.

Khalong Kael no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=27254948