Henri e o número Dezoito encontravam-se imóveis, frente a frente.
Toda magia possui um custo: paralisar o inimigo pode ser uma grande vantagem, mas Quepta também paralisa quem a invoca, ainda que por um período mais curto de tempo. Kael percebeu que seu amigo havia sido atingido, mas continuou correndo. Nada poderia fazer por ele.
- Dezesseis! – dizia o homem firmemente, olhando para o lado e apontando para Kael.
Este entendeu a ordem e instantaneamente pronunciou a magia Proten. Então, mesmo com a velocidade inferior à Protenido, alcançou um Kael ofegante e esgotado e o agarrou.
- É hora de ir, Kael. – disse uma voz feminina e calma, era o número Dezesseis – Descanse. – Em seguida colocou as mãos nas costas e pronunciou outra magia – Voster!
A visão de Kael perdeu o foco. Num momento ele via uma rua escura e em outro via o céu estrelado, a lua, a sua casa, então seus olhos se fecharam e ele caiu no chão.
Eu estava sentado na beira da praia, jogando algumas pedras no mar. A praia era extensa, terminando num amontoado de morros esverdiados cercados por rochas e palmeiras. A brisa era suave e havia algumas gaivotas sobre o mar. Fiquei algum tempo observando-as, enquanto as nuvens se moviam. Sentia-me feliz, sinceramente.
- Kael!
Eu me virei e sorri para ela. Estava mais linda do que nunca, com os cabelos soltos e os pés descalços na areia. Ela também sorria para mim e acenava. Eu não conseguia lhe dizer nada, era como se tivesse perdido a capacidade de falar. Porém, quando a olhei, ela entendeu. Veio até mim e sentou-se ao meu lado.
- Dia lindo.
Também parecia feliz. Queria abraça-la, mas meu corpo não me obedecia.
- Que bom que estamos aqui, juntos - ela disse, timidamente.
Eu a olhei outra vez e ela compreendeu o que eu sentia. Tentei perguntá-la onde estávamos com o olhar, mas dessa vez ela não entendeu. Então de uma hora para outra, sua expressão mudou e ela olhou para o mar.
- Por que você nos deixou? – perguntou, séria.
Eu não a compreendi, mas sua pergunta me afetou de algum modo, como uma lembrança perdida que voltara ao consciente. Senti uma pressão invadindo o meu peito. Então olhei para o mar e os vi. A principio vi Henri, de olhos fechados, pálido, imóvel. Me voltei para ela, que confirmou com a cabeça. Não pode ser, isso não. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, mas ela estava lá para limpá-la com seus dedos macios. Olhei novamente para o mar e vi minha mãe, meu pai, Rágoas. A felicidade que eu sentia antes havia desaparecido e dado lugar a uma angústia terrível. Me deitei na areia e fechei os olhos. Minha mente havia se transformado num turbilhão de sentimentos. Abri os olhos em sua direção, mas ela já não estava mais lá. Mesmo assim senti o seu sorriso. O céu estava limpo e o sol brilhava como nunca.
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